O Banco do Nordeste do Brasil (BNB) afastou do cargo, nesta segunda-feira (11), o chefe de gabinete da presidência da instituição, Robério Gress do Vale. A decisão do banco ocorre dois dias após reportagem da revista "Época", que trouxe detalhes de auditorias da CGU (Controladoria-Geral da União) e da própria instituição, com sede em Fortaleza, sobre um suposto esquema de desvio de dinheiro.
A instituição financeira é voltada ao desenvolvimento regional do Nordeste e tem 90% de seu capital sob o controle do Governo Federal.
O valor total das operações de crédito irregulares ultrapassaria R$ 100 milhões. O Banco do Nordeste confirmou a existência das fraudes, mas não citou valores.
Em comunicado oficial publicado nesta tarde, o Banco do Nordeste informou que Robério Gress do Vale é funcionário de carreira há mais de 28 anos e passará a atuar em outra área da instituição, mas não informou o novo cargo. Ele ocupava a chefia de gabinete da presidência desde dezembro de 2004. O Banco disse ainda que não vai se pronunciar sobre os motivos da decisão.
Em outra nota oficial, também divulgada nesta segunda-feira, o Banco do Nordeste confirmou a existência de auditoria interna, que apurou as denúncias de irregularidades na concessão de empréstimos entre o final de 2009 e início de 2011. “Esta instituição, tão logo tomou conhecimento, ainda em julho de 2011, dos primeiros indícios de irregularidades, adotou imediatamente todas as providências que a situação reclamava.”
Segundo o banco, foram abertas quatro sindicâncias, que ainda estão em andamento, mas que já confirmaram a existência de fraudes. No período investigado, o Banco do Nordeste informou que as irregularidades envolveram 24 clientes, de um total de 5,8 milhões de operações de crédito no período. Após a descoberta da fraude, o banco informou que adotou “diversos aperfeiçoamentos” nos processos de crédito. O banco, porém, não cita o valor supostamente desviado.
Sobre as investigações, o banco informou ainda que elas “já resultaram no afastamento e demissão de vários colaboradores. Além disso, o banco passou, espontaneamente, a interagir com os órgãos de controle externo --CGU, Ministério Público e Polícia Federal-- a fim de que o assunto recebesse os encaminhamentos e apurações devidos, para além daqueles levados a curso no âmbito do próprio Banco do Nordeste."
Investigações
As investigações do caso estão no MP-CE (Ministério Público Estadual), que afirma que empresas utilizavam notas fiscais frias na prestação de contas de empréstimos tomados na instituição. Além disso, os verdadeiros beneficiários do esquema utilizariam “laranjas” para obter os benefícios, por meio de linhas de crédito da instituição. A CGU também informou que uma auditoria está em andamento para investigar as supostas fraudes.
Segundo a revista "Época", os valores dos financiamentos irregulares chegam a R$ 100 milhões, que resultaram em uma dívida com o banco de R$ 125 milhões. Somente as empresas MP Empreendimentos, a Destak Empreendimentos e a Destak Incorporadora conseguiram financiamentos na ordem de R$ 11,9 milhões --todas pertenceriam aos irmãos da mulher de Robério Gress do Vale, afastado hoje pela instituição.
A denúncia das irregularidades foram feitas pelo gerente de negócio do banco, Fred Elias de Souza. A revista diz que o funcionário soube do esquema na agência em que trabalhava, localizada no centro de Fortaleza, e procurou o MP em setembro do ano passado para informar sobre o caso.
Ainda segundo a reportagem, entre os nomes envolvidos nas investigações da CGU e da Polícia Federal, existem pelo menos dez filiados ao PT, o que seria um indício de caixa-dois para financiamento de campanhas eleitorais.
O banco
Com 60 anos, o Banco do Nordeste do Brasil é uma instituição financeira múltipla criada pela Lei Federal nº 1649, de 19.07.1952 , e organizada sob a forma de sociedade de economia mista, de capital aberto, tendo mais de 90% de seu capital sob o controle do governo federal. O banco atua em cerca de 2.000 municípios, abrangendo os nove Estados da Região Nordeste (Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia), o norte de Minas Gerais (incluindo os Vales do Mucuri e do Jequitinhonha) e o norte do Espírito Santo.
Maior instituição da América Latina voltada para o desenvolvimento regional, o banco opera como órgão executor de políticas públicas, cabendo-lhe a operacionalização de programas como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e a administração do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE).
Além dos recursos federais, o banco tem acesso a outras fontes de financiamento nos mercados interno e externo, por meio de parcerias e alianças com instituições nacionais e internacionais, incluindo instituições multilaterais, como o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
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