Hulk relembra origem pobre e diz que se sentiu rico pela 1ª vez com R$ 500

Atacante paraibano da Seleção recebeu a visita de revista feminina de JP e falou sobre a vida no futebol, família, sonhos e sobre como tudo começou


Hulk exibe a medalha de prata olímpica que conquistou com a Seleção nos Jogos de Londres (Crédito: Amanda Araújo / Revista Pitanga)
Quando assinou o primeiro contrato profissional com o Vitória, em 2005, Hulk ligou para a mãe, em Campina Grande, e disse: “Vamos ficar ricos!” No contrato, um salário de R$ 500. Esse foi o ponto de partida de uma trajetória vitoriosa no futebol. Depois de uma curta e inexpressiva atuação no clube baiano, Hulk foi tentar a sorte do outro lado do mundo, se destacando em alguns clubes do Japão. Chamou a atenção do Porto e foi contratado em 2008, onde ficou por quatro anos e ganhou 11 títulos. No ano passado, Hulk trocou Portugal pela Rússia, protagonizando a maior transação do mercado futebolístico da temporada. O Zenit pagou uma quantia estimada em € 60 milhões pelo jogador, algo em torno de R$ 150 milhões.
Apesar do sucesso lá fora, foi a atuação de Hulk na Seleção Brasileira que tornou o seu futebol conhecido pelos brasileiros. De olho na próxima Copa do Mundo, o jogador não quer deixar escapar a chance de se manter entre os titulares. Com a saída do técnico Mano Menezes e a chegada de Luiz Felipe Scolari ao comando da seleção, Hulk afirma que vai trabalhar como nunca para ser visto pelo novo treinador e, assim, ter a chance de realizar o sonho de ser campeão mundial com a seleção.
No início do mês, dois dias antes de retornar ao Zenit, Hulk recebeu a Revista Pitanga para uma entrevista exclusiva. O apartamento do jogador em João Pessoa ainda tinha sabor de férias e enquanto o jogador tentava instalar o Playstation3 na TV e atendia alguns garotos do prédio para fotos e autógrafos, Iran, sua mulher, nos fez companhia.
Nascida em Boa Ventura, no Sertão paraibano, ela contou como os dois só se conheceram no Japão, aproximados pela Paraíba:
- Na saída de um restaurante brasileiro, uma amiga que estava comigo passou por ele perguntou se ele não era o ‘Hulk Paraíba’ que ela tinha visto no Orkut. Eu não estava nem prestando atenção na conversa, mas quando ouvi o nome Paraíba, me interessei. Ele pediu meu telefone, mas eu não dei. No Japão, jogador de futebol não tem a melhor fama do mundo. Então ele me deu o número dele e dias depois eu decidi ligar – contou aos risos.
Oito anos mais velha que o marido, Iran diz que não sente ciúmes, lida bem com o assédio da mulherada e conta que os dois são muito parceiros.
- Outro dia uma moça (uma fã, que o abordou no meio da rua) beijou o Hulk na minha frente, na boca. O que eu podia fazer? Cair na risada, é claro - conta aos risos.
O casal está junto há sete anos. E ela é mãe dos dois filhos do jogador, Tiago e Ian. Após esta conversa rápida e o fim da “operação vídeo game”, se deu início à conversa com Hulk.
Pitanga - O que você está achando das férias na Paraíba e o que tem feito todos esses dias?
Hulk: Estou achando chato porque vai acabar. (risos) Estou curtindo tudo. Fico muito tempo
longe e quando chego encontro duas cidades maravilhosas (ele passa as férias entre Campina Grande e João Pessoa), muita coisa boa para aproveitar, festas, praias e a família, claro. São seis irmãs e 14 sobrinhos. Quando estou aqui procuro ver os amigos. Infelizmente tenho pouco tempo e os meus amigos são muitos. É complicado, mas eu procuro ver todos, dá atenção a cada um e matar um pouco a saudade.
O assédio dos fãs incomoda? Dá pra curtir uma praia com tranquilidade?
O assédio existe em qualquer parte do mundo. Mas procuro atender da melhor maneira possível. Eu jamais negaria uma foto, um autógrafo, não quero ser chato ou arrogante, nem que digam que não sei atender um fã. Eu comecei do zero e construí uma historia bonita, sou querido e bem recebido por onde passo e me sinto feliz com isso. Eu sinto demais o carinho das pessoas aqui. É bom saber que elas estão aprovando o modo como a gente carrega o nome da Paraíba.
Quanto à praia, quando estou na água é mais tranquilo (risos).
O que dá mais saudade do Brasil quando está fora?
O clima e a família. Quando eu parar de jogar, o Brasil é o país que eu quero morar com minha mulher e meus filhos, mas, por enquanto, é o país que eu gosto de tirar férias. Quando estou aqui eu brinco muito, me divirto, mas tem uma hora que dá saudade de acordar cedo, treinar... Eu sinto falta da rotina.
Você tem uma vida aparentemente tranquila, nunca esteve envolvido em nenhum escândalo. Você se preocupa com isso? Toma alguma precaução?
Acho importante saber chegar e sair em qualquer lugar que eu entro. Saí de casa cedo e meus pais sempre trabalharam muito, mas eles me deram uma boa educação. Tive a felicidade de conhecer minha esposa, que me ensinou muita coisa e que me deu as coisas mais importantes que eu tenho na vida, que são meus dois filhos. Depois deles, tudo mudou. Comecei a ter mais responsabilidade. Antes de fazer qualquer coisa, penso primeiro na minha na família. Faço tudo para não magoá-los.
Você se tornou um grande jogador atuando no exterior. Como é voltar ao Brasil fazendo parte da seleção brasileira?
Minha vitória não foi fácil. Tive que fazer história fora do país para depois ser reconhecido aqui. Fui para o Japão muito cedo, depois para Europa, onde tudo começou a correr bem. O reconhecimento veio através da Seleção. Eu estava no Porto quando ocupei o meu espaço na Seleção e hoje sou respeitado por isso. Foi difícil, minha vitória ganhou gosto de mel.
A sua transferência para o Zenit rendeu uma das negociações mais caras do futebol mundial. Como você se sente vindo de uma família humilde?
A gente quer mostrar que valeu a pena. Fico grato pelo meu trabalho ser bem visto, ser reconhecido. Fico feliz por entrar para a história do futebol. Sou o jogador que fez mais gols no estádio do Dragão (novo estádio do Porto, inaugurado em 2003), por exemplo, e fico feliz por isso por conseguir tudo isso.
Você imaginou que um dia seria uma estrela do futebol?
Nunca imaginei. Desde criança eu queria ser jogador de futebol. Eu tinha dois ídolos, o Romário e o Ronaldo, e eles me inspiraram muito. Depois que cheguei no Vitória e assinei o meu primeiro contrato com 16 anos, eu vi que a minha profissão seria atleta profissional. Ali eu estava fazendo o que eu gostava e estava realizando um sonho. Assinei o contrato com o Vitória para ganhar R$ 500 por mês. Lembro que na época eu liguei pra minha mãe e disse: “Mãe, a gente vai ficar rico”. Eu nunca tinha visto tanto dinheiro. Depois de um ano o salário dobrou. E depois veio o Japão e as coisas melhoraram. Agradeço primeiro a Deus e depois ao futebol, que me deu tudo que eu tenho hoje.
Profissionalmente, já chegou aonde gostaria?
Eu gosto de correr atrás dos meus objetivos. Eu tinha o sonho de jogar na Seleção. Realizei esse sonho. Outro sonho é disputar a Copa do Mundo e eu vou trabalhar em cima desse objetivo para o mundial no Brasil e, se Deus quiser, ser campeão com a seleção.
A posição de atacante é a mais cobiçada de toda a Seleção. Você sente alguma pressão?
Quando se trata de Seleção, nenhuma posição é fácil de chegar. São muitos jogadores bons e poucas vagas. É pedir para continuar bem, pra não sofrer nenhuma lesão e ser lembrado na hora das convocações.
E esse apelido, Hulk, de onde vem?
Eu tenho desde os três anos. O meu pai conta que eu gostava de imitar o Hulk, que eu dizia que era forte, que queria levantar o bujão de gás da casa. Daí ele disse: ‘então o seu apelido vai ser Hulk’. E ficou até hoje. Se alguém me chama de Givanildo (Vieira de Souza) é capaz de eu nem olhar pra trás. (risos) Muita gente acha que é por causa do futebol, mas eu não sou muito alto e também não era tão forte quando comecei a jogar.
Por falar na infância, que memória você tem dessa época?
Principalmente de quando eu jogava futebol com os amigos no Parque da Criança, em Campina Grande, e nenhum de nós tinha condição de pagar um transporte. Então a gente saia do Zé Pinheiro (bairro pobre da cidade) para o Parque do Povo (área pública onde é realizada o Maior São João do Mundo) ou para o Ginásio Meninão a pé apenas para jogar futebol. Ninguém tinha dinheiro pra comprar o lanche e o treinador era quem comprava. Essas dificuldades ficaram como aprendizado.

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