
Alvo de polêmicas desde o início, as obras
de transposição do Rio São Francisco, que promete levar água para 12
milhões de pessoas, ainda não rendeu uma gota de água sequer para quem
vive no semiárido nordestino. Nos municípios paraibanos de São José de
Piranhas e Monteiro, as obras seguem a passos lentos. A demora faz a
população desacreditar no projeto, ao mesmo tempo em que o Governo
Federal promete concluir a obra até o final de 2015.
No canteiro de obras visitada pela equipe
de reportagem, no final de abril, no município de São José de Piranhas, a
impressão que se tem é de abandono. Mas o Ministério da Integração
Nacional afirma que há 590 pessoas trabalhando 24 horas por dia. A
reportagem visitou o local em um domingo. O custo da obra saltou de
R$4,5 bilhões para R$8,2 bilhões.
O amontoado de rochas parece intocável e
as estruturas gigantes, por onde a água deveria estar passando desde
2012 (primeiro prazo dado para a conclusão) estão inacabadas. Em meio ao
concreto destinado aos túneis, é possível encontrar animais que buscam,
em vão, saciar a sede, o que reforça ainda mais o quanto a seca vem
castigando o interior da Paraíba.
A lentidão nas obras representa sofrimento
para a população do semiárido nordestino, incluindo a Paraíba, que
sofre com os efeitos da pior seca dos últimos 50 anos, segundo
meteorologistas e técnicos de órgãos ligados à agricultura e pecuária.
Em São José de Piranhas estão os lotes 7 e 14, que compõem a Meta 3N do
projeto de integração do Rio São Francisco. Segundo o Ministério,
atualmente as atividades do lote 14 estão em andamento, e as do lote 7
estão suspensas.
Os serviços devem ser retomados com a
conclusão da licitação das obras complementares da Meta 3N, que teve
edital publicado no dia 10 deste mês, no Diário Oficial da União (DOU). O
edital contempla também as obras dos lotes 12, em Monteiro; 10 e 11, em
Custódia (PE); e 6 em Mauriti (CE). A perspectiva é que as obras
recomecem no início do segundo semestre.
Conforme informações do Ministério, a Meta
3N, da qual São José de Piranhas faz parte, está com 30,4% das obras em
execução. Segundo o Ministério da Integração, as obras do projeto estão
em andamento e apontam mais de 43% de avanço.
Para chegar que as águas da transposição
cheguem até à população do semiárido, é preciso que as obras secundárias
(como adutoras e canais), de responsabilidade das prefeituras
municipais e governos estaduais, sejam executadas. Sobre esse assunto, o
senador Vital do Rego (PMDB) esclarece que a Paraíba está atrasada em
relação ao andamento dos projetos dos estados vizinhos. O senador é
presidente da Comissão Externa de Acompanhamento dos Programas de
Transposição e Revitalização do Rio São Francisco, que tem a missão de
fiscalizar o andamento das obras.
Segundo o senador, no final de 2014, a
Paraíba terá 100 Km de água nos dois eixos. Porém, ele critica o fato da
lentidão das obras secundárias, necessárias para que a água chegue às
localidades. “Ao longo da obra os governos sabiam que precisavam de
obras complementares”, afirma. De acordo com Vital, a Paraíba terá mais
20 açudes e em 50 cidades será feito o saneamento obrigatório através
das obras do São Francisco. “Os estados precisam agir de forma mais
efetiva”, declara.
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