Histórias do Cariri III


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A morte de João Pessoa e a construção do mito na Comarca de São João do Cariri

O historiador Márcio Macêdo Moreira em sua coluna semanal no Portal VITRINE DO CARIRI comenta sobre a influência do presidente da Paraíba João Pessoa sobre o município de São João do Cariri.

Confira o texto abaixo:

Nesta última semana ocorreram os 82 anos do assassinato do presidente do Estado da Paraíba João Pessoa de Albuquerque. Seu governo foi um dos mais turbulentos da história da Paraíba, devido a reforma tributária, o desarmamento e a fatídica revolta dos coronéis liderada por Zé Pereira de Princesa. O Cariri teve participação na construção do mito do “salvador” João Pessoa a partir da interventoria de um de seus filhos, Gratuliano da Costa Brito (1905-1982). Grato, como era popularmente chamado assumiu a chefia do Estado a partir da indicação de seu primo da cidade de Areia, José Américo.
Durante o governo de João Pessoa, Gratuliano assumiu a chefia da Polícia do Estado e coube a este investigar todas as arbitrariedades dos coronéis da época. Durante as eleições de março de 1930 entre perrepistas e liberais, Grato trabalhou em São João do Cariri em favor da Aliança Liberal. Após o Movimento de 1930, ele assumiu a Secretaria do Interior na interventoria de Anthenor Navarro. Com a morte do interventor em 1932, Gratuliano assumiu o cargo mais importante da administração do Estado (tal como o cargo atual de governador).
A família Brito em São João do Cariri buscou criar a imagem de João Pessoa como “salvador”, fato que ocorreu também em todo o Estado, ao mudar o nome e a bandeira em prol dos ideais “revolucionários”.
No primeiro aniversário de morte de João Pessoa, a família Brito em São João do Cariri organizou uma “co-memoração” cívica que incluiu a mistura de política com religião. Primordialmente ocorreu uma procissão pelas ruas do município com a fotografia de João Pessoa sendo exposta na frente do cortejo. Em seguida teve a distribuição de esmolas e logo após o canto do hino a João Pessoa. Todas as atividades colocavam João Pessoa como o herói político que salvou a Paraíba das oligarquias e como santo. O fato de dar esmolas, por exemplo, destaca a figura de salvador do falecido presidente da Paraíba.
O discurso “revolucionário” trouxe para o Cariri grandes contribuições como a construção do Mercado em 1931 e a Escola 24 de Janeiro (atual Tertuliano de Brito). A construção da escola foi primordial para o avanço educacional do município. O nome da escola foi uma homenagem do interventor a data de nascimento do falecido João Pessoa. Daí, conclui-se a forte construção do mito do mártir no município de São João do Cariri. Além destas obras, durante a seca de 1932, os “flagelados” trabalharam na construção do açude Namorados e na atual BR-412.
Durante a interventoria de Gratuliano Brito discursos encorajadores foram realizados em defesa do “espírito” de João Pessoa, como incentivo para as tropas paraibanas lutarem na Revolução Constitucionalista de São Paulo. O mesmo Gratuliano que ergueu o Monumento a João Pessoa em frente ao Palácio do Governo na Capital paraibana. Assim, unidos aos ideais da “Revolução de 1930”, São João do Cariri foi representada como cidade corajosa e tradicional na defesa do moralismo político paraibano. Surgiu a partir do domínio da família Brito na região uma cultura histórica voltada para a tradição, pois o pequeno município heroico defendeu a Revolução.
Com o esvaziamento do discurso revolucionário em 1934, Gratuliano foi substituído por Argemiro de Figueiredo. Os Britos continuaram no poder no município até 1939 quando foram substituídos pelos Gaudêncios. Foi o fim do discurso revolucionário e o retorno de antigas oligarquias no poder.

"Acima a fotografia do Arcebispo Dom Adauto com o interventor na benção da pedra fundamental do Monumento a João Pessoa".

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