| Quando atendeu ao telefone, Wanderléa pediu um minuto. Disse que estava só aguardando a ligação do CORREIO e, que, em pouco tempo, iria ensaiar - ou seja: o tempo da conversa seria pouco. “Pronto, agora podemos falar”. O grande medo de entrevistar alguém como a Ternurinha, de certa forma tão marcada por um período como a Jovem Guarda, é de se ver diante de questões repetitivas, que não empolguem o entrevistado. Porém, quem se der ao trabalho de pesquisar sobre a carreira de Wanderléa vai perceber que ela é uma intérprete eclética e que já gravou autores diversos. Hoje à noite, quando subir no palco montado no Ponto de Cem Réis, Wanderléa, a principal atração da programação da Festa das Neves hoje, possivelmente vai oferecer um presente todo especial ao público. A banda Mama Jazz, que fará a abertura, se apresentará às 21 horas. Quando foi informada de que em seu último disco, Nova Estação, havia gravado um sucesso de um paraibano, “Chiclete com Banana”, consagrado por Jackson do Pandeiro e composto por Gordurinha e Almira Castilho, Wanderléa ficou empolgada. “Nossa, nesse repertório de viagem, quando eu vou para apresentações assim, em praça, nem canto o repertório todo do disco...”, explicou a cantora. Mas a Festa das Neves é uma celebração popular, tradicional, e se ela interpretar “Chiclete com Banana”, certamente, seria um afago no coração da plateia. Wanderlea, raciocinando rápido, lembra: “No DVD, essa música eu fiz com a minha filha, Jadde. Ela toca percussão... Nem sempre ela me acompanha, quando eu viajo, mas curiosamente ela vem comigo... Eu acho que ainda dá tempo de ensaiar. Você me deu uma boa ideia!”. No disco novo, Wanderléa se apresenta como uma intérprete eclética e variada. Apresenta canções como “Dia branco”, de Geraldo Azevedo, “Salve linda canção sem esperança”, de Luiz Melodia, e, por incrível que pareça, quando vai recorrer à imbatível dupla de sucesso da Jovem Guarda, Roberto e Erasmo, sai com o não muito conhecido “Samba da preguiça”, feito para Nara Leão, mas que a musa da bossa não chegou a gravar. Mas isso não é nenhuma novidade. Em 1972, com o seu disco Wanderléa Maravilhosa, ela gravou Jorge Mautner (“Quero ser locomotiva”) e Gilberto Gil (“Back in Bahia”). “Ah, que bom que você fala isso; que bom eu não vou ter que explicar que sou apenas Jovem Guarda. Não que eu tenha nada contra, fez parte de um momento muito especial da vida, mas eu não só canto esse estilo”, explicou. Ao falar como compõe o repertório, o que norteia suas escolhas, Wanderléa disse que gosta de variar, uma herança do tempo em que foi crooner. “Eu cantava de tudo aos 15 anos, bossa nova, bolero, samba. Fui cantora mirim revelação, cantei no rádio”. São 50 anos de carreira. Nesse período todo, Wanderléa vem cantando para gerações que apreciam a Jovem Guarda. “Eu não tenho nenhum problema em cantar antigos sucessos. Eu sei que, em várias ocasiões, estou cantando pela primeira vez para muita gente. Nos meus shows, eu tenho percebido isso. São avós, filhos, netos. São fãs que vão passando a música para seus descendentes”. Wanderléa fala com felicidade de seu último disco. “As pessoas que têm ouvido me falam que ele é atemporal. Cada faixa ganhou um novo arranjo do Lalo (Califórnia, marido da cantora, que produziu e é guitarrista da banda dela) e isso deu uma unidade. É um disco diferente”, conta, mencionando, ainda, que o trabalho foi premiado como melhor disco de 2008, pela APCA, além de receber uma indicação ao Grammy Latino. O tempo só tem feito bem à Wanderléa que continua com a mesma alegria de cantar. Ela parece manter firme um trecho da famosa frase do revolucionário argentino Ernesto Che Guevara e não perde a ternura jamais. |
categoria
Música