A segurança pública, tema em que a esquerda costuma
patinar, foi alçada à prioridade das discussões do governo Lula (PT) com a
crise decorrente da megaoperação contra a facção Comando Vermelho, recolocando
o petista na defensiva.
A ação de terça-feira (28) no Rio de Janeiro se
tornou a mais letal da história do país, com 121 mortes, e fez Lula tomar
atitudes até então inusitadas no campo da esquerda, em uma movimentação
embalada pela apreensão entre aliados com os efeitos sobre a imagem de sua
gestão.
Pesquisa Datafolha mostrou que a operação foi vista
como um sucesso por 57% dos moradores da capital e da região metropolitana do
Rio, contra 39% que pensam o contrário.
A operação patrocinada pelo governo do oposicionista
Claudio Castro (PL) deixou em segundo plano, no campo político, assuntos até
então na ordem do dia, como as negociações em torno do tarifaço de Donald
Trump.
Mais do que isso, reunificou o discurso da direita
-até então abalada pelas ações de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos
e a condenação de Jair Bolsonaro (PL).
Além disso, interrompeu um ciclo de boas notícias
para o Palácio do Planalto, que esperava pautar a campanha em busca de um
quarto mandato de Lula com bandeiras como a defesa da soberania e da justiça
tributária.
Destoando da reação histórica da esquerda a esse
tipo de ação, Lula não criticou ou questionou publicamente a operação policial
e evitou falar diretamente sobre o caso, o que deixou eventuais manifestações
alusivas a "chacina" e "massacre" para a esquerda no
Congresso, em especial o PSOL.
Havia uma expectativa de que Lula usasse evento de
posse de Guilherme Boulos na Secretaria-Geral da Presidência, na quarta (29),
para abordar o tema -o que não ocorreu. Na ocasião, houve um minuto de silêncio
pelas vítimas da operação.
O petista só quebrou o silêncio à noite, numa
publicação nas redes sociais, em que falou em "trabalho coordenado"
contra o tráfico de drogas que atinja a espinha dorsal do crime "sem
colocar policiais, crianças e famílias inocentes em risco."
Um aliado de Lula diz que essa estratégia foi
pensada justamente para evitar qualquer outro tipo de fala do presidente que
pudesse ser usada por opositores para desgastá-lo.