A grande variedade de formas de aproveitamento do caju confere à cajucultura um destaque na economia do Piauí
A grande variedade de formas de aproveitamento do caju confere à cajucultura um destaque na economia do Piauí. No estado, especialmente na microrregião de Picos (a 310 km de Teresina), a atividade é a principal responsável pela geração de emprego e renda, seja por meio do plantio, colheita e processamento da polpa (pedúnculo) para produção de sucos, além do beneficiamento da castanha (verdadeiro fruto).
Na região Nordeste, a cadeia produtiva do caju é responsável por mais de 300 mil empregos, distribuídos nas atividades agrícola, industrial e serviços. Com isso, cumpre importante função na economia rural. “O Piauí ocupa o segundo lugar na cajucultura no Brasil, com cerca de 180 mil hectares de cajueiros plantados. A região de Picos destaca-se como primeiro lugar. São cerca de 55 municípios em que predomina a cultura do caju, onde centenas de famílias se beneficiam dessa atividade”, afirma Aurino Antônio Nunes Guimarães, produtor e presidente da Câmara Setorial da Cajucultura do Estado do Piauí.
Nivaldo da Rocha Ferreira, morador de Picos, trabalha, desde 1998, como enxertador e selecionador em um viveiro de mudas, às margens da BR-316. A atividade é a principal fonte de sustento da sua família. “Em época de grande produção, a gente consegue uma renda mensal de até R$ 900. Dá pra sobreviver. Antes a vida era difícil. Não conseguia emprego fixo. Hoje, tenho casa própria e transporte graças a esse trabalho”, conta. Além dele, mais três irmãos trabalham na produção e plantio de mudas.
Mais oportunidades de empregos
O processamento do pedúnculo é outra importante atividade econômica ligada à exploração rural do caju que gera empregos diretos e indiretos na região. “A grande virtude do município é a época de safra do caju, que movimenta milhões de reais anualmente, envolvendo plantio, colheita e processamento”, afirma Elvis Batista, gerente administrativo de uma das principais fábricas de suco da região, sediada no Rio de Janeiro e instalada na região há cerca de 10 anos. A unidade tem capacidade de produzir anualmente em torno de dois milhões e meio de litros de suco de caju e outras frutas da região, como manga e goiaba. No período de safra, a empresa chega a empregar diretamente cerca de 80 pessoas e gera mais de 400 empregos indiretos. “Compramos de vários produtores da região os frutos que utilizamos na fabricação dos sucos, dando emprego à população e incentivando os produtores. Com isso, cumprimos nosso papel social”, frisa Batista.
Trabalho conjunto que gera renda
“A cajucultura, por si só, se encarrega de fazer a distribuição de renda. A atividade é a que mais gera trabalho e renda no semiárido”, avalia Jocibel Belchior, presidente da Cooperativa dos Cajucultores do Piauí (Cocajupi) e vice-presidente da Câmara Setorial da Cajucultura no estado. “Acredito que, se a atividade for melhor explorada, vai aumentar a distribuição de renda. Por exemplo, quem tem cinco hectares de cajueiro emprega cinco pessoas ou mais, e isso apenas na colheita do caju e da castanha para vender in natura. Se for processar o caju e a castanha, vai gerar muito mais empregos. Esse é um dos papéis que a Cocajupi vem desempenhando, além de outras entidades e empresas”, explica Belchior.
De fato, a Cocajupi é mais um bom exemplo do potencial da cajucultura para geração de emprego na região. Atualmente, a entidade conta com 450 cooperados, correspondendo a quase duas mil pessoas beneficiadas, num raio de atuação que envolve nove municípios - Francisco Santos, Monsenhor Hipólito, Campo Grande, Vila Nova, Jaicós, Ipiranga, Altos, Itainópolis e Pio IX. “O produtor cooperado traz a castanha já pré-selecionada. A Cooperativa faz a identificação, pesagem e revisão por amostragem para verificar se o produto está dentro dos padrões de classificação. Depois é feita a torrefação, embalagem e comercialização do produto”, descreve Luiz Eduardo, gerente da Cocajupi.
Os produtores cooperados reconhecem a importância do trabalho conjunto. “Se não fosse a Cooperativa, estaríamos vendendo para atravessadores, o que não é vantagem pra gente”, explica Luiz José da Silva, produtor de caju e presidente da Cooperativa Mista Agroindustrial de Francisco Santos. A união de esforços tem gerado bons frutos. Atualmente, a entidade reúne 20 produtores, cuja renda mensal, em época de safra, chega a cerca de R$ 900,00 por mês. “Sou cooperado a mais de 10 anos. Antes, a vida era mais difícil. Hoje melhorou muito”, conta o produtor. Além dele, todos os adultos da sua família trabalham na produção do caju.
Mais apoio à produção
A Codevasf, por meio da Área de Revitalização das Bacias Hidrográficas, busca estruturar e fortalecer a cadeia produtiva do caju, possibilitando a geração de emprego e renda para milhares de famílias que sobrevivem com essa atividade. Nos últimos anos, já foram aplicados recursos da ordem de R$ 16 milhões em apoio ao Arranjo Produtivo Local (APL) do caju. Até o final de 2012, terão sido disponibilizados recursos da ordem de R$ 4 milhões oriundos de destaques orçamentários do Ministério da Integração Nacional, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Regional, além de recursos oriundos de emendas parlamentares.
“Dentro das diretrizes do Plano Brasil sem Miséria, tendo a inclusão produtiva como uma de suas medidas para melhoria das condições de vida das populações na zona rural, tornou-se importante que a Codevasf estimule e execute ações voltadas para a implantação, expansão e fortalecimento da cajucultura nas bacias do São Francisco, Parnaíba, Itapecuru e Mearim”, afirma o diretor da Área de Revitalização das Bacias Hidrográficas da Codevasf, José Augusto Nunes.
No caso da bacia do Parnaíba, especificamente no Piauí, a Codevasf conta com experiências exitosas no apoio a cultura do caju por meio do Programa de Desenvolvimento da Cajucultura no estado. Dentre as ações desenvolvidas destacam-se a oferta de cursos sobre as tecnologias para a cajucultura; seleção, cadastramento, fornecimento de mudas e acompanhamento do produtor; estruturação agroindustrial da cadeia, por meio da construção de unidades de conservação e beneficiamento do pseudofruto.
“A cajucultura requer acompanhamento técnico e levantamento das potencialidades, bem como, um planejamento das ações a curto e médio prazos, para que o Estado administre de forma racional a grande área que terá nos próximos anos, totalmente em fase de produção e necessita garantir diversidade de produtos e escoamento da produção”, afirma José Augusto Nunes
categoria
Economia