Simpáticas, guerreiras, talentosas,
empreendedoras e com fé no futuro. Assim podemos resumir as rendeiras do
Cariri Paraibano. Doutoras em uma arte herdada das avós, elas lutam
para manter a tradição e ao mesmo tempo sobreviver. A região, que
apresenta um dos mais baixos índices pluviométricos do Brasil e que
sofre com processo de desertificação, é referência quando se fala na
arte de tecer rendas.
É na cidade de São João do Tigre, uma das
cinco que integram o polo da renda renascença da Paraiba, que funciona a
cooperativa de mulheres rendeiras, a Coptigre. “Aqui em São João do
Tigre a gente já nasce sabendo a fazer renda”, brinca a presidente da
cooperativa de rendeiras, Maria de Lourdes Oliveira.
Dona Lourdinha, como gosta de ser chamada,
já ensinou o ofício às duas filhas e hoje preside o grupo formado por
trinta mulheres. Ela lembra das dificuldades que enfrentou antes do
apoio que recebeu do Governo do Estado, do Sebrae e das Ongs 8 de Março e
Cunhã. “A gente fazia renda com material emprestado, pedia a uma e
outra, não tinha canto certo para trabalhar. Há dois anos, fundamos a
cooperativa e, através do programa do Artesanato, começamos a viajar,
participar dos salões e a divulgar nosso trabalho”, disse.
Mensalmente o grupo recebe capacitação das
Ongs, que visitam as rendeiras do Cariri para acompanhar os trabalhos.
Já o Sebrae capacita as artesãs, oferecendo cursos específicos,
orientando as rendeiras sobre empreendedorismo e gestão.
“Oferecemos consultoria orientando as
artesãs desde a concepção do material gráfico dos produtos até as
vendas. Mostramos como deve funcionar a comercialização e também
capacitamos as cooperativas e associações com relação a organização
gerencial do negócio. Trabalhamos no sentido de fortalecer a cadeia
produtiva da renda”, informou o coordenador regional do Artesanato do
Cariri do Sebrae, João Jardelino da Costa.
No ano que vem, o trabalho produzido pelas
rendeiras paraibanas já tem endereço certo nas cidades sede da Copa das
Confederações, que acontece como parte dos preparativos para a Copa do
Mundo de 2014. “A Paraíba vai estar representada em alguns showrooms das
seis capitais nacionais na competição”, disse o coordenador. O
Programa do Artesanato Paraibano oferece suporte e apoio na realização
de feiras e Salões de Artesanato tanto na Paraíba quanto em outros
estados.
A renda – A renda renascença teve origem ao século XVI, tendo como berço de origem a ilha de Burano, em Veneza, na Itália.
Na Paraíba, o artesanato chegou com o
trabalho das freiras missionárias, que ensinaram o ofício para as
mulheres. Hoje, a atividade está concentrada na região do Cariri, com
maior densidade de artesãs rendeiras nos municípios de Camalaú,
Monteiro, São João do Tigre, Zabelê e São Sebastião do Umbuzeiro.
Centenária, passada de geração em geração
entre as famílias da região, a técnica é famosa pelo estilo de bordado
feito exclusivamente a mão.
E são as mãos caprichosas de dona Severina
Correia que, de ponto em pontos, tecem mais um dia. “Desde os sete anos
trabalho com renda, também aprendi bordado e outros trabalhos manuais.
Faço meus trabalhos em casa e na cooperativa, já não tenho tanto tempo
quando antes, tenho que tomar conta da casa, mas o tempo que me sobra,
estou aqui”, disse a artesã.
Na cooperativa, uma bordadeira depende da
outra. A próxima encomenda já tem data, destino certo e tem tomado os
dias de dez artesãs. “Um casal de Vitória (ES) encomendou 500 peças para
presentear os convidados. Estamos correndo contra o relógio,
trabalhando muito para entregar na data certa”, disse a rendeira Tereza
Cristina.
“Ficamos felizes em ver a Paraíba ser
vendida para as principais cidades do Brasil e algumas do Exterior”,
disse orgulhosa a artesã.
Herança – A renda trouxe perspectiva e
melhorou a vida das mulheres do Cariri Paraibano, que, além da batalha
pelo sustento diário, lutam para perpetuar a tradição herdada das avós.
“Tenho duas filhas que trabalham comigo desde criança. Com certeza vão
passar o que eu ensinei para as filhas delas”, comentou dona Lourdes.
Hoje, a renda renascença da Paraíba volta
para Europa e para outros cantos do mundo, através das criações da
estilista alagoana Martha Medeiros. As peças adquiridas na Paraíba já se
tornaram obrigatórias no guarda roupa das atrizes e estão sendo
exportadas para lugares a exemplo do Japão, França e Estados Unidos. A
renda renascença produzida no Cariri também já foi tema do desfile do
estilista Ronaldo Fraga na São Paulo Fashion Week e recentemente brilhou
na semana de moda de Londres. Parece que as mulheres rendeiras da
Paraíba estão mesmo ensinando o mundo a fazer renda.
Programa de artesanato da Paraíba - O
Programa do Artesanato da Paraíba tem revelado o talento de centenas de
artesãos de todas as regiões do estado com os mais diferentes tipos de
trabalhos. Além de divulgar as atividades dos artistas, o Programa
incentiva negócios. Para a gestora do PAP, Ladjane Barbosa, o objetivo
do programa é estimular, capacitar e dar visibilidade ao artesanato
paraibano.
“Nossa intenção é fomentar cada vez mais o
desenvolvimento do artesanato paraibano, para que, além do
reconhecimento seja ele nacional ou internacional, possamos trabalhar de
forma integrada com o turismo, melhorando as condições de vida dos
artesãos e artistas, gerando trabalho, renda, preservando as formas de
identidade cultural de cada região”, explicou a coordenadora.
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