
Nada de mulatas, cerveja ou samba. O
Brasil que recebe a Copa das Confederações a partir deste sábado, em
Brasília, ofereceu como "boas vindas" a fumaça preta de pneus queimados
em um protesto na frente do estádio Mané Garrincha. A manifestação que
movimentou a capital federal na última sexta é só uma entre várias
outras espalhadas pelo país, que vive um inesperado momento de revoltas e
protestos.
O fogo que paralisou uma das principais
vias de Brasília foi criado pelo MTST. O movimento queimou pneus para
protestar contra a venda de terrenos públicos para ajudar na construção
do Mané Garrincha, que custou cerca de R$ 1,2 bilhão. Neste sábado, uma
nova manifestação, essa organizada pelo Facebook, promete reunir mais de
duas mil pessoas para cobrar as autoridades pelo suposto desrespeito
aos direitos humanos nas obras da Copa.
No Rio de Janeiro, as horas que
antecederão o confronto entre México e Itália, no próximo domingo,
também devem ser marcadas por um protesto. Para brigar contra os
aumentos abusivos de passagens de transporte público nas cidades-sede da
Copa, um grupo organizou no Facebook um manifesto que aconteceria na
entrada do Maracanã.
De olho em todo esse processo, Minas
Gerais se antecipou. Na última sexta, o TJ-MG (Tribunal de Justiça)
decidiu proibir qualquer tipo de manifestação nos 853 municípios do
Estados nos dias de jogos da Copa das Confederações. "A proibição se
estende a todo e qualquer manifestante que porventura tente impedir o
normal trânsito de pessoas e veículos, bem assim o regular funcionamento
dos serviços públicos estaduais, apresentação de espetáculos e de
demais eventos esportivos e culturais", disse a decisão.
A própria seleção já foi afetada por algum
tipo de revolta popular. Em Goiânia, o penúltimo dia da equipe na
cidade foi marcado por uma manifestação em frente à concentração de
quatro sindicatos em greve, que protestaram contra o governador Marconi
Perillo.
No dia seguinte, Felipão e companhia foram
obrigados a ir de avião até Brasília para não cruzarem com uma
manifestação na estrada que liga as duas cidades. "Temos acompanhado
todos os protestos, mas não podemos fazer nada. Já temos muitas
dificuldades para superar, não podemos nos envolver nisso. Queremos o
carinho para a seleção, mas, se por causa desses problemas não tivermos,
não temos o que fazer", disse David Luiz.
Mesmo fora da Copa das Confederações, São
Paulo está na lista. Também na última sexta, o status quo do futebol
também entrou na mira dos paulistanos. Na Av. Paulista, cerca de 250
pessoas fecharam algumas faixas, jogaram futebol e criticaram de CBF a
Fifa, passando pela Nike.
A movimentação em São Paulo é importante
porque é na cidade que está o maior foco de rebelião. Nesta semana, duas
manifestações organizadas pelo Movimento Passe Livre, que pede tarifa
zero no transporte público, terminaram em confusão generalizada com a
polícia e viraram notícia na imprensa mundial.
A repercussão da luta por tarifas mais
baratas na capital paulista ainda baliza alguns dos outros movimentos
espalhados pelo país. "É uma luta pelo direito à cidade. Tanto que aqui a
gente também pede a libertação dos presos de São Paulo", disse Gabriel
Elias, assessor do MTST, referindo-se a um cartaz na barricada da última
sexta, em Brasília, que pedia a libertação dos manifestantes detidos
pela polícia.
A Fifa (Federação Internacional de
Futebol) e o COL (Comitê Organizador Local) tratam o tema com cuidado,
mas tentam transmitir confiança de que a Copa das Confederações ocorrerá
normalmente. "Respeitamos o direito de protesto e temos confiança nas
autoridades. Estamos monitorando a situação para sabermos mais
informações, mas são as autoridades locais que são responsáveis pela
segurança", disse Pekka Odrizola, porta-voz da Fifa.
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